O Brasil se mira em seu espelho mais cruel nesta semana com a comoção provocada pela morte de Miguel Otávio, de 5 anos, que caiu do nono andar de um edifício de luxo no Recife onde sua mãe, a empregada doméstica Mirtes Renata, trabalhava.
Na terça-feira, a criança estava sob os cuidados da patroa de Mirtes, que deixou o menino andar sozinho de elevador, como mostram as imagens do circuito interno do prédio.
Miguel decidiu descer em um dos andares e a tragédia aconteceu. “Houve comportamento negligente”, afirmou o delegado Ramón Teixeira, responsável pelo caso.
A morte da criança negra por negligência da patroa branca — que não havia liberado a empregada doméstica durante a quarentena — encarna a tragédia do racismo e do classismo, frisam ativistas em pleno debate mundial da opressão dos negros.
Uma manifestação em homenagem a Miguel está prevista para esta sexta-feira, enquanto cresce o clamor pela punição da patroa, que responderá pelo crime em liberdade após pagamento de fiança. “Temos que tomar muito cuidado porque, quando for a babá negra cuidando da criança, vão legitimar os discursos para homicídio doloso”, argumenta a advogada criminalista Priscila Pamela dos Santos, integrante do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa).(Ag. Pública)