Estudo aponta queda na atividade física e na capacidade muscular dos pequenos; especialistas comentam medidas para reverter o quadro
Por Fernanda Bassette (Agência Einstein)
Uma revisão de estudos realizada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), junto a cientistas da Austrália e da França, traz à tona um fenômeno preocupante: a dinapenia infantil, nome dado à perda de força e potência muscular entre crianças e adolescentes.
“A revisão se baseou em uma série de estudos publicados entre 1978 e 2024 e revelou que há um severo declínio no nível de atividade física e força muscular nas últimas décadas entre crianças e adolescentes”, diz o profissional de educação física Cássio Víctora Ruas, doutor em Ciências do Esporte e do Exercício e autor do estudo. Os resultados foram publicados no periódico Conexões, da Faculdade de Educação Física da Unicamp.

Tradicionalmente associada ao envelhecimento, a perda da força muscular tem surgido cada vez mais cedo, impulsionada pelo estilo de vida sedentário e uso excessivo de telas, intensificado principalmente após o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19.
Em geral, as crianças têm ficado mais tempo em casa ou em ambientes internos, deixando de brincar ao ar livre. “O reflexo disso tem sido o surgimento de problemas de saúde que até então aconteciam principalmente na população idosa, como obesidade sarcopênica, osteopenia, distúrbios cardiometabólicos e, principalmente, dinapenia, que é a redução dos níveis de força muscular não causada por doenças neuromusculares”, explica Ruas.
Para você
Segundo o pesquisador da Unicamp, estudos têm demonstrado que, hoje em dia, os pequenos apresentam níveis significativamente menores de força e potência muscular em testes de saltos, suspensão na barra, resistência abdominal e extensão de joelhos.
Para saber se esse pode ser o caso do seu filho, preste atenção a alguns sinais. “Se a criança passa a maior parte do tempo sentada, em frente a telas, evita brincar ou tem dificuldade em tarefas motoras simples, pode ser um indicativo”, diz. “Nessas situações, a orientação de médicos e o acompanhamento por profissionais de educação física são fundamentais.”
Para o educador físico Everton Crivoi, doutor em Ciências do Esporte e responsável pela preparação física no Espaço Einstein de Esporte e Reabilitação, do Einstein Hospital Israelita, a dinapenia infantil é preocupante não apenas por sua crescente prevalência, mas pela dificuldade em diagnosticá-la. “O conceito ainda carece de critérios diagnósticos clínicos padronizados, o que pode dificultar a quantificação precisa do fenômeno”, observa.