O presidente do Brasil aproveitou a coletiva para criticar postura de Washington sobre tarifas
Lula fala durante coletiva de imprensa com o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, após reunião bilateral no palácio presidencial em Jacarta. 2025.© AFP – Yasuyoshi Chiba
Durante visita oficial à Indonésia nesta quinta-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que pretende disputar um quarto mandato nas eleições presidenciais de 2026. Aos 80 anos, Lula declarou estar com “a mesma energia de quando tinha 30” e afirmou estar preparado para continuar governando o Brasil. A declaração foi feita ao lado do presidente indonésio, Prabowo Subianto, em meio a uma visita voltada para fortalecimento das relações comerciais entre os dois países.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, firmou nesta quinta-feira acordos econômicos com a Indonésia e defendeu o “livre comércio” no início de uma viagem pelo sudeste asiático — região também afetada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Na Indonésia, quarto país mais populoso do mundo e novo integrante do grupo BRICS, Lula deu início a uma visita à região que ele classificou como o quinto maior parceiro comercial do Brasil.
“Vou disputar um quarto mandato no Brasil. Por isso lhe digo isso, porque ainda vamos nos encontrar muitas vezes”, declarou Lula ao presidente indonésio, Prabowo Subianto.
O Brasil é um dos principais parceiros comerciais da Indonésia na América do Sul. O comércio total entre os dois países, entre janeiro e agosto, somou US$ 4,3 bilhões de dólares, segundo dados da Agência de Estatísticas da Indonésia.
Além do anúncio eleitoral, Lula aproveitou a ocasião para criticar o protecionismo comercial e a postura dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Em referência às tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump a produtos brasileiros, Lula classificou a medida como “inaceitável” e afirmou que o Brasil “não é uma republiqueta”.
O presidente brasileiro defendeu o multilateralismo e disse que não quer “confusão com Washington”, mas que também não tem medo de enfrentar pressões externas.
Acordos bilaterais
Em Jacarta, Lula foi recebido no palácio presidencial com banda de música e execução dos hinos nacionais, antes de se reunir com o presidente indonésio Prabowo Subianto.
Ambos acompanharam a assinatura de acordos nas áreas de petróleo, gás, eletricidade, tecnologia, mineração e agricultura. A visita ocorre meses após Trump impor uma tarifa de 19% sobre importações da Indonésia, com base em um acordo comercial, e uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
“Como é possível que dois países tão importantes no mundo como Indonésia e Brasil, que juntos somam quase 500 milhões de habitantes, tenham um comércio de apenas 6 bilhões de dólares? É pouco para a Indonésia e é pouco para o Brasil”, questionou Lula em declaração à imprensa.
Subianto afirmou que os dois países estão trabalhando para estabelecer um acordo de livre comércio entre a Indonésia e o bloco sul-americano Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai.
A nação do sudeste asiático busca fortalecer seus laços com a América Latina e, em agosto, assinou um acordo comercial com o Peru. Em janeiro, passou a integrar o grupo BRICS, do qual o Brasil é membro.
Crítica velada ao tarifaço
Em uma referência velada à guerra tarifária iniciada por Washington, Lula destacou: “Indonésia e Brasil não querem uma segunda Guerra Fria. Queremos livre comércio (…), queremos multilateralismo, não unilateralismo”.
Os dois líderes também se comprometeram a combater juntos a crise climática.
“Somos dois dos países com as maiores florestas tropicais e maior biodiversidade do mundo. Também somos grandes produtores de biocombustíveis, que terão um papel fundamental na transição. Indonésia e Brasil trabalharão juntos”, disse Lula.
A viagem à Ásia inclui ainda participação na cúpula da Asean, na Malásia, onde está sendo articulado um encontro com Trump. Segundo o Itamaraty, o objetivo é retomar o diálogo bilateral e buscar soluções para os impasses comerciais.
“Não quero enganar o povo brasileiro”
Lula também fez menção ao ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden, que desistiu da reeleição por questões de saúde, e destacou que só será candidato se estiver em plena condição física. “Não quero enganar o partido nem o povo brasileiro”, disse.
A confirmação da candidatura ocorre em um momento de alta popularidade do presidente, que lidera as pesquisas para 2026 em todos os cenários de primeiro e segundo turno.
Lula também aproveitou o discurso para reforçar sua oposição à extrema direita e disse que, se for candidato, será para vencer. “Não vou disputar, vou ser candidato para ganhar”, afirmou.
Com AFP