O lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-Nano, da empresa Innospace, foi confirmado provavelmente para o dia 22 de novembro, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão (MA). O voo integra a Operação Spaceward 2025, conduzida pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), que vai colocar cinco satélites em órbita e promover três experimentos, desenvolvidos por entidades do Brasil e da Índia
Preparação e execução
Nessa segunda-feira (03/11), a Força Aérea Brasileira (FAB) deu início à fase de execução da operação, responsável pelo lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-Nano a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão (MA). Para completar a equipe, foram enviados mais 47 servidores, totalizando cerca de 400 profissionais. A iniciativa, sob coordenação do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA/FAB), vai até o dia 28 de novembro e ainda não tem data definida para o lançamento. O evento marca a entrada do Brasil no mercado global de lançamentos espaciais, abrindo novos caminhos para geração de renda e investimento no segmento.

“A Operação Spaceward marca o primeiro lançamento comercial realizado a partir do território nacional e simboliza a entrada definitiva do país no mercado global de lançamentos espaciais. Essa evolução inaugura um círculo virtuoso para o Programa Espacial Brasileiro, promovendo maior investimento no segmento, impulsionando o desenvolvimento tecnológico do país e fortalecendo a soberania do Brasil no setor. A FAB mobilizou equipes altamente qualificadas, com décadas de experiência na condução de operações complexas, para garantir que cada etapa seja executada com precisão, segurança e excelência. Lançar um veículo estrangeiro aqui no Brasil mostra ao mundo que nós temos infraestrutura, conhecimento e autonomia para operar em um dos segmentos mais estratégicos da atualidade”, comenta o Diretor-Geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Tenente-Brigadeiro do Ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert.
A confirmação do lançamento ocorreu após uma revisão completa dos parâmetros climáticos, da integração do veículo e das cargas úteis, dos protocolos de segurança e da prontidão operacional. A data e o horário ainda poderão ser ajustados caso haja alterações no clima ou no status das operações no local.
A missão é resultado de um edital de chamamento público feito pela AEB em 2020, voltada a empresas interessadas em realizar lançamentos a partir do CLA. A Innospace foi uma das selecionadas, assinando contrato com o Comando da Aeronáutica (COMAER) em 2022.
Além da confirmação do lançamento, também estão definidas as cargas úteis que estarão embarcadas no HANBIT-Nano. São cinco satélites e três experimentos, desenvolvidos por entidades do Brasil e da Índia. Confira detalhes de cada uma delas: O PION-BR2 | Cientistas de Alcântara é um satélite educacional desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com a AEB, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a startup PION. O veículo levará mensagens de alunos da rede pública local ao espaço, tal como uma metáfora da tradicional “garrafa ao mar”. Além do caráter simbólico e educacional da ação, a universidade fará testes de módulos e sistemas nacionais de comunicação, energia, painéis solares e computador de bordo, contribuindo para o fortalecimento da indústria espacial brasileira.
A iniciativa busca aproximar as comunidades quilombolas de Alcântara das atividades espaciais, transformando moradores e estudantes em protagonistas de uma missão inédita para o país. “Essa missão demonstra como ciência, cultura e educação podem caminhar juntas, conectando tecnologias estratégicas às comunidades tradicionais. Ver jovens de Alcântara participando diretamente da integração do satélite é um marco histórico e reforça o protagonismo local neste momento único para o país”, destaca o Vice-Coordenador do projeto e Professor da UFMA, Alex Oliveira Barradas Filho.

O Jussara-K é um satélite também desenvolvido pela UFMA, em parceria com startups e instituições nacionais. O nome faz referência ao fruto juçara, tradicional do Maranhão, enquanto a letra “K” representa a colaboração com a Epic of Sun, que planeja lançar uma constelação de satélites denominada Kara. O veículo foi concebido para coletar dados ambientais em regiões de difícil acesso, comunicando-se com plataformas terrestres de coleta de dados (PCDs) posicionadas estrategicamente na região de Alcântara.
Entre as instituições que participaram no desenvolvimento do satélite, estão a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e a Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da UFMA (FSADU), além de startups como All to Space, Bizu Space, Usiped e Epic of Sun. O Coordenador do projeto pela UFMA, Professor Carlos Brito, comenta a participação na operação. “É um desafio pelo alto nível de complexidade envolvida na integração de vários sistemas, além de ser uma oportunidade de estar em um evento histórico para o Programa Espacial Brasileiro. É uma grande honra e um orgulho para os pesquisadores, alunos e toda comunidade envolvida”, destaca.
Comunicação em órbita
Os satélites FloripaSat-2A e FloripaSat-2B, desenvolvidos pelo SpaceLab da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), devem validar em órbita tecnologias criadas no próprio laboratório, consolidando a plataforma FloripaSat-2 como base para futuras missões espaciais. Será a primeira vez que uma plataforma completa e projetada integralmente pelo SpaceLab será testada em voo. Entre os experimentos, está a validação de um sistema de comunicação via LoRa, tecnologia de baixo consumo energético amplamente utilizada em aplicações de IoT (Internet das Coisas).
O satélite FloripaSat-2B é 100% nacional, com antenas projetadas no próprio laboratório, estrutura fabricada no país e painéis solares desenvolvidos em parceria com empresas brasileiras. O lançamento marca o primeiro voo dessa nova geração de plataforma nacional, reforçando a autonomia tecnológica e ampliando as possibilidades para futuros satélites acadêmicos e institucionais.
“Participar dessa missão representa um marco histórico e simbólico para a nossa equipe e para a UFSC. Do ponto de vista tecnológico, demonstra a capacidade do país de desenvolver e testar soluções inovadoras no espaço. Do ponto de vista institucional e educacional, é um orgulho ver o trabalho de estudantes integrando uma missão pioneira que reforça o protagonismo do Brasil no cenário espacial”, destaca o Coordenador do SpaceLab/UFSC, Eduardo Bezerra, reforçando que os dois satélites foram totalmente projetados e integrados por estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores do laboratório, com apoio da AEB e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Navegação de precisão do foguete
O foguete HANBIT-Nano levará ao espaço o Sistema de Navegação Inercial (SNI), uma plataforma nacional desenvolvida por meio de uma encomenda tecnológica da AEB em parceria com as empresas Concert Space, Cron e Horuseye Tech. Considerado o principal equipamento de controle de um foguete, o SNI será enviado como carga útil para teste de desempenho em ambiente real de voo.
O objetivo é validar a tecnologia, permitindo que empresas brasileiras ofereçam o produto no mercado. O SNI é responsável por determinar, com precisão, a velocidade, a posição e a atitude de um veículo durante a sua trajetória, garantindo maior controle e eficiência. Além do setor aeroespacial, a tecnologia pode ser aplicada em IoT, drones, veículos terrestres e marítimos, representando um avanço estratégico para a indústria nacional.
“Fazer este lançamento será uma excelente oportunidade para gerar herança de voo ao nosso sistema, abrindo portas para o desenvolvimento de muitas outras tecnologias nacionais que são estratégicas para o Brasil”, destaca o CEO da Concert Space, Rafael Mordente.
Posicionamento de alta precisão
A empresa Castro Leite Consultoria (CLC) integra a missão com dois equipamentos embarcados no foguete HANBIT-Nano. Por solicitação da fabricante, a Agência Força Aérea teve acesso apenas aos dados do PINA-FD, um Sistema de Navegação Inercial (INS) desenvolvido para qualificação tecnológica em ambiente de voo espacial real. O sistema é responsável pela execução do algoritmo de navegação, tanto autônoma quanto auxiliada por GNSS (Global Navigation Satellite System). O objetivo é testar e validar a plataforma em ambiente suborbital, obtendo dados fundamentais para sua futura aplicação em sistemas de navegação embarcados em missões espaciais.
A missão representa um passo importante para a empresa, ao permitir a qualificação dos dois equipamentos para voos espaciais, ampliando oportunidades no Programa Espacial Brasileiro e no mercado internacional. “Estar nessa operação representa muito mais do que um teste tecnológico: é a oportunidade de demonstrar a capacidade da indústria nacional de atuar em um cenário espacial de alto nível. A presença da CLC nessa operação reforça a importância de desenvolvermos soluções no Brasil, para o Brasil e para o mundo”, afirma o sócio-diretor da empresa, Waldemar de Castro Leite Filho.
Cooperação internacional
O Solaras-S2 é a carga internacional a bordo do foguete HANBIT-Nano. Trata-se de um módulo de comunicações voltado à observação da atividade solar, desenvolvido pela empresa indiana Grahaa Space, referência em soluções tecnológicas para missões de pequeno porte. O objetivo é monitorar fenômenos solares que podem impactar comunicações, navegação e sistemas tecnológicos na Terra.
Fonte: Força Aérea Brasileira (FAB) – Fotos: Divulgação / Innospace









