PF encontrou R$ 12 milhões na casa de Paulo Iran. Ele é apontado como operador financeiro do prefeito de São Bernardo, afastado nesta quinta (14/ago)
Reprodução redes sociais

O servidor público Paulo Iran, apontado como operador financeiro do prefeito de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), pagava cartão de crédito, passagens aéreas e até a faculdade da filha do prefeito, com o dinheiro de repasses ilegais. Ele foi o ponto de partida para operação da Polícia Federal que levou ao afastamento de Marcelo Lima (foto em destaque) nesta quinta-feira (14/8).
Mensagens anexadas ao inquérito da PF mostram o recibo de pagamento de um boleto de R$ 8.284,95, correspondente ao valor da mensalidade da faculdade de Gabrielle Lima Fernandes, filha de Marcelo. Gabrielle foi beneficiária do Auxílio Emergencial durante o período da pandemia de Covid-19, período em que Marcelo ocupava o cargo de vice-prefeito.
A PF esteve pela primeira vez na casa de Paulo em 7 de junho deste ano, quando a polícia apreendeu mais de R$ 12 milhões e US$ 157 mil, além de R$ 583 mil no carro do servidor, um Jeep Compass. Durante essa operação, a equipe policial encontrou uma série de anotações com codinomes para organizar o dinheiro, que era distribuído aos beneficiários em mochilas e caixas de papelão.
Paulo é considerado pela Polícia Federal como agente central na distribuição de recursos obtidos. Em resumo, ele recebia dinheiro de pelo menos 15 empresas dos setores de saúde e obras da Prefeitura de São Bernardo do Campo. Uma delas, a Quality Medical, que realiza a distribuição de medicamentos na cidade e também foi alvo da operação da PF, é acusada de ter feito R$ 670 mil em repasses.
Para isso, ele usava um telefone paralelo para trocar mensagens codificadas sobre os valores arrecadados e repassados de maneira ilícita com a ajuda de Antônio Renê da Silva Chagas, funcionário da prefeitura que atuava na divisão do dinheiro obtido por meio do esquema. Os dois servidores foram alvo de mandados de prisão nesta quinta-feira (14/8).
Relação entre Paulo e o Marcelo Lima

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A Polícia Federal indica que a relação entre o prefeito e Paulo Iran começou em julho de 2022, quando os investigadores encontraram mensagens nas quais Marcelo solicitava que Paulo realizasse pagamentos para ele.
Desde 2022, Paulo Iran trabalha como funcionário comissionado no gabinete do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL), onde Rosangela Lima, primeira-dama de São Bernardo, trabalhou por dois anos, até novembro de 2024. Para a PF, a alocação dos dois no gabinete demonstra a influência política de Marcelo Lima, que teria tratado diretamente das nomeações.
“Em síntese, Marcelo de Lima Fernandes emerge como o eixo articulador das movimentações financeiras ilícitas, com Paulo Iran Paulino Costa atuando como seu braço operacional. A documentação e as comunicações revelam um esquema estruturado de arrecadação e distribuição de valores de origem ilícita, dissimulado por anotações informais e comunicações cifradas, tudo sob a supervisão direta do chefe do Executivo municipal”, resume o inquérito da Polícia Federal.
Apesar de ser funcionário na Alesp, Paulo teria como principal ocupação atuar como operador financeiro do prefeito. Em nota ao Metrópoles, o deputado Rodrigo Moraes disse que tomou “as devidas providências de exoneração para manter transferência, ética e moral para as devidas investigações”. A Prefeitura de São Bernardo ainda não se pronunciou.
O Metrópoles tenta contato com as defesas dos investigados. O espaço segue aberto para manifestações.
Quem são os outros alvos da operação
- Antonio Rene da Silva Chagas — Ao lado de Paulo Iran Paulino Costa, o servidor Antonio Rene da Silva Chagas, conhecido como Renegade, atuava na divisão do dinheiro obtido por meio do esquema; os valores seriam entregues aos beneficiários em mochilas e caixas de papelão.
- Fabio Augusto do Prado — Apelidado no esquema como Fabio Campanha e Sacolão, o secretário de Coordenação Governamental, Fabio Augusto do Prado, teria sido flagrado em conversas de WhatsApp com operadores do esquema falando sobre a “chegada de valores”, que seriam recebidos por meio de dinheiro fracionado.
- Roque Araújo Neto — Também apontado como operador do esquema, o servidor da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo Roque Araújo Neto aparece em anotações do caixa clandestino de Paulo Iran. Nos papéis encontrados, havia um crédito de R$ 390 mil associado ao nome dele.
- Sócios da Quality — Felipe Rafael Pereira Fabri e Caio Henrique Pereira Fabri, sócios da Quality Medical Comercio e Distribuidora de Medicamentos, são alvo da operação porque, nas anotações de Paulo Iran, a empresa é associada a valores expressivos, que somam pelo menos R$ 666 mil.
- Sócios do Consórcio São Bernardo Soluções — Luís Roberto Peralta e Leonardo Agnello Pegoraro, sócios do Consórcio São Bernardo Soluções, também são alvo de mandados de busca por anotações relacionando a empresa a pagamentos de pelo menos R$ 174 mil.
- Sócio da Ballarin Imobiliária — Apesar de a empresa, ao contrário de outras investigadas, não prestar serviço para a prefeitura, o sócio Murilo Batista de Carvalho foi alvo de mandado de busca. Em anotações de Paulo Iran, Murilo aparece associado ao número 400, o que, para a PF, também poderia indicar um pagamento.
- Sócio da Terraplanagem Alzira Franco — Assim como no caso da Ballarim, a empresa Terraplanagem Alzira Franco, de Edmilson de Deus Carvalho, também não possui contrato com a gestão municipal de São Bernardo do Campo. No entanto, nas anotações do principal operador do esquema, consta “Edmilson 30k ok”, o que indicaria a movimentação de R$ 30 mil. A PF cita ainda uma conversa de 2024 em que Edmilson fornece a Iran orientações sobre quando as quantias em dinheiro deveriam ser entregues.
- Danilo Lima de Ramos — O vereador Danilo Lima de Ramos, segundo a PF, é mencionado em conversas entre Paulo Iran e Fabio Augusto Prado. “Do Danilo, é uma conta do Danilo, os negócios dele lá… Outras coisas, entendeu?”, diz Iran em um dos trechos mencionados. Há, ainda, indicação de depósito solicitado por Danilo e feito pelo operador na conta de terceiro.
- Ary José de Oliveira — O vereador Ary José de Oliveira também aparece em conversas dos operadores do esquema. “Ary até agora 3x de 50”, diz Paulo Iran. Há ainda, anotações, diversos valores associados ao nome do parlamentar, diz a PF.
- Paulo Sérgio Guidetti — Ex-secretário de Administração e atual servidor municipal de São Bernardo do Campo, Paulo Sérgio Guidetti é mais um que aparece em mensagens trocadas por Paulo Iran. “Acabei de pegar… ele disse pra conferir. Provavelmente veio os 150”, afirma o operador.
O Metrópoles tenta contato com as defesas dos investigados. O espaço segue aberto para manifestações.
Valentina Moreira – Metrópoles