Artista tratava um enfisema pulmonar e não resistiu a uma parada cardíaca; obra marcou gerações e influenciou a vanguarda da MPB.
O compositor, cantor e violonista Jards Macalé morreu no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (17), após sofrer uma parada cardíaca enquanto estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste da cidade. O artista tratava um quadro de enfisema pulmonar e vinha passando por procedimentos médicos.
No comunicado publicado pela família, reproduzido pelo G1, o texto lamenta a perda e recorda o espírito criativo do músico. “Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando ‘Meu Nome é Gal’, com toda a energia e bom humor que sempre teve. Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade. Agradecemos, desde já, o carinho, o amor e a admiração de todos. Em breve informaremos detalhes sobre o funeral.” A nota também recupera uma de suas frases marcantes: “Nessa soma de todas as coisas, o que sobra é a arte. Eu não quero mais ser moderno, quero ser eterno.”
Um criador radical e essencial para a MPB
Nascido no Rio em 1943, Jards Anet da Silva iniciou sua trajetória musical nos anos 1960, quando teve sua primeira composição gravada por Elizeth Cardoso, em 1964. A postura vanguardista, somada à recusa de seguir formatos comerciais, marcou sua identidade e o projetou como o “anjo torto” da MPB — expressão usada pelo jornalista Mauro Ferreira ao analisar sua contribuição singular para a música brasileira.
O primeiro grande impacto nacional veio em 1969, durante o IV Festival Internacional da Canção, graças à interpretação explosiva de “Gotham City”. Três anos depois, em 1972, Macalé lançou seu primeiro álbum solo, um marco que consolidou sua estética híbrida e experimental, combinando rock, samba, jazz, blues, baião e canção. Dessa fase saíram clássicos eternizados também por Gal Costa e Maria Bethânia, como “Hotel das Estrelas”, “Mal Secreto” e “Vapor Barato”.
Parcerias, legado e coerência artística
Ao longo das décadas, Macalé manteve diálogos criativos com nomes como Waly Salomão, Torquato Neto e José Carlos Capinan, construindo uma obra permeada por estranhamento, poesia e defesa radical da liberdade estética. A afinidade com Luiz Melodia reforçou esse caminho de resistência às pressões das gravadoras dos anos 1970 e 1980.
Sua marca vocal ruminada, somada ao violão de formação erudita, consolidou um estilo inconfundível, presente tanto em suas próprias composições quanto em interpretações de Ismael Silva, Lupicínio Rodrigues e outros pilares da música brasileira. Mesmo após longos anos de carreira, seguiu ativo e relevante: em 2019, lançou “Besta Fera”, álbum exaltado pela crítica e apontado como um dos grandes trabalhos de sua discografia.
Jards Macalé deixa uma obra que permanece como referência de invenção, ousadia e integridade artística para a música brasileira.







