
Um novo depoimento do ex-prefeito de São José de Ribamar Eudes Sampaio durante audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), alterou significativamente o curso das investigações sobre um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares do qual são acusados os deputados federais Josimar de Maranhãozinho e Pastor Gil, além do suplente Bosco Costa, todos do PL.
Responsável por originar a apuração com uma denúncia inicial, Eudes afirmou que nunca recebeu recursos oriundos de emendas indicadas por Maranhãozinho, tampouco manteve qualquer tipo de contato com o parlamentar.
A sessão, acompanhada por representantes do Ministério Público Federal (MPF), trouxe declarações importantes. Eudes explicou que os recursos recebidos pela prefeitura durante sua gestão foram repasses institucionais, sem indicação nominal de deputados, e oriundos de pedidos da própria prefeitura.
“O deputado Josimar Maranhãozinho é muito conhecido, mas nunca tive qualquer relação com ele. Pelo contrário, ele apoiava meu adversário. Não houve contato nem recebimento de emenda”, declarou o ex-prefeito ao STF.
Segundo Eudes, os valores creditados ao município foram fruto de projetos regularmente apresentados pela administração municipal, sem qualquer vinculação com nomes específicos de parlamentares. Essa versão foi corroborada pelo então secretário de Saúde da cidade.
O ex-prefeito também detalhou que os pedidos de recursos foram feitos de maneira institucional, com total transparência e dentro dos trâmites legais. Ao questionar a origem dos repasses, afirmou ter recebido a informação de que não havia qualquer identificação de autoria individual das emendas — sinal de que se tratavam de repasses técnicos, não políticos.
“Quando o recurso entrou, liguei para o secretário de Saúde e perguntei. Ele disse que não havia nome de parlamentar algum. Talvez fosse de bancada, mas não constava nada no sistema”, relatou.
A declaração de Eudes vai de encontro à principal linha investigativa, que apontava Josimar de Maranhãozinho como articulador do direcionamento de emendas em troca de vantagens pessoais.
Na mesma linha, os parlamentares investigados — Josimar de Maranhãozinho, Bosco Costa e Pastor Gil – também negaram qualquer envolvimento em irregularidades durante depoimentos prestados ao STF. Todos refutaram as acusações de cobrança de propina – o que teria sido feito pelo agiota Pacovan, executado no interior do Maranhão em junho do ano passado – ou desvio de recursos, sustentando que as emendas seguiram critérios legais e foram acompanhadas tecnicamente pelos ministérios responsáveis.
Na semana passada, por exemplo, Josimar declarou em depoimento que o seu nome foi incluído no caso pelo próprio Pacovan, que segundo ele, era “uma pessoa analfabeta”, que “falava pelos cotovelos”.
Com os novos depoimentos — em especial o de Eudes Sampaio, que nega a denúncia que deu origem ao processo —, as investigações ganham nova perspectiva. A ausência de provas materiais e a origem institucional dos recursos reforçam a tese de que não houve direcionamento irregular ou envolvimento pessoal de parlamentares no repasse dos valores.
O depoimento do ex-prefeito enfraquece a acusação contra Josimar de Maranhãozinho e fortalece o entendimento de que os repasses ocorreram dentro da legalidade, sem vínculos diretos com o deputado.
Eudes confrontou Pacovan
Num primeiro depoimento, Eudes Sampaio já havia relatado como se deu a conversa com Pacovan sobre o assunto.
De acordo com o ex-gestor, nos primeiros dias de 2022 seu secretário de saúde teria afirmado que o dinheiro havia sido enviado ao município. “Eu nem sabia se poderia ser emenda ou não. Nós recebemos com satisfação e usamos o dinheiro”, disse no primeiro interrogatório.
Eudes afirma que, em dado momento, Pacovan afirmou que ele era quem teria conseguido a verba destinada à cidade então comandada por Eudes, ao que este agradeceu. Na sequência, Pacovan teria dito que foi até ele para “acertar o meu”.
“Aí eu disse: ‘O seu? Nunca te vi, nunca acertei nada com você, e não tenho nada a acertar com você’. Nisso, ele [Pacovan] tentou começar a se identificar quem ele era […] talvez para me amedrontar”, disse Eudes.
O ex-prefeito de São José do Ribamar, no entanto, disse que não foi mencionado que a suposta cobrança seria por causa de emendas, ou sequer teriam mencionado o nome de deputados. “Aí ele deu a entender que era emenda, mas ele não falou o nome de ninguém. Não chegou nem a falar que era emenda parlamentar”, afirmou Eudes.
De acordo com Eudes Sampaio, o secretário de saúde foi questionado sobre a origem dos recursos e afirmou que “não tinha nome de parlamentar nenhum”. “Na época ele até completou: ‘Só se for de bancada, mas mesmo assim não aparece nada no sistema’”.
(Do blog do jornalista Gilberto Leda)